domingo, 20 de abril de 2008

CRENÇA - CUCA


Cuca é uma expressão com que se amedrontam as crianças, e corresponde ao bicho-papão a que todas as mães recorrem em determinados momentos para aquietar a peraltice dos filhos. A palavra provavelmente seja derivada de côca, espécie de capuz feminino que serve para cobrir a cabeça deixando livre apenas o rosto, mas que também significa feiticeira ou abóbora (e até mesmo panela vazia) com furos representando os olhos, o nariz e a boca de uma pessoa, sendo iluminada por dentro para assustar e causar medo. Esse tipo de capuz é comum em Portugal, e a significação de feiticeira talvez seja decorrente do aspecto feio dessas peças do vestuário, o que levou a imaginação popular a associá-las a esse ser fantástico.


Existem muitas canções e versos sobre a cuca, e talvez a mais conhecida seja a que diz “Nana, neném / Que a cuca vem pegar / Papai tá na roça / Mamãe foi cozinhar”. Ou então “Vai-te, Cuca, sai daqui / para cima do telhado / deixa dormir o menino / o seu sono sossegado”. Da mesma forma, são várias as maneiras como essa criatura é descrita pela crendice popular e autores diversos, sendo uma delas a de Luiz Câmara Cascudo, em “Geografia dos Mitos Brasileiros”:


“A Cuca, ou a Coca, é um ente velho, muito feio, desgrenhado, que aparece durante a noite para levar consigo os meninos inquietos, insones ou faladores. Para muitos, a Coca, ou Cuca, é apenas uma ameaça de perigo informe. Amedronta pela deformidade. Não sabe como seja o fantasma. A maioria, porém, identifica-a como uma velha, bem velha, enrugada, de cabelos brancos, magríssima, corcunda e sempre ávida pelas crianças que não querem dormir cedo e fazem barulho. É um fantasma noturno. Figura em todas as canções de ninar. Não há sobre ele episódios nem localizações. Está em toda parte, mas nunca se disse quem carrega e como o faz.. Conduz a criança num saco. Leva nos braços. Some-se imediatamente depois de fazer a presa. Pertence ao ciclo dos pavores infantis que a Noite traz”.


sábado, 5 de abril de 2008

ADIVINHAS (II)

Mais desafios e forma de perguntas:


I
O que é, o que é,
Voa, voa, não tem asa
Leva a vida a assobiar
Sopra, sopra, não tem boca
Tem pé e vive no ar?

II
O que é, o que é,
Está no meio do começo
Está no começo do meio
Estando ambos assim
Está na ponta do fim?

III
O que é , o que é,
Quem faz nunca vai querer
Quem compra não quer usar
Quem usa não pode ver
Quem vê não vai desejar?

Respontas: o vento, a letra m, caixão

Azevedo, Ricardo. Meu livro de Folclore. São Paulo: Ática, 1999

PARLENDA (II)

CADÊ
Nossa!
Que escuro!
Cadê a luz?
Dedo apagou.
Cadê o dedo?
Entrou no nariz.
Cadê o nariz?
Dando um espirro.
Cadê o espirro
Ficou no lenço.
Cadê o lenço?
Dentro do bolso.
Cadê o bolso?
Foi com a calça.
Cadê a calça?
No guarda-roupa.
Cadê o guarda-roupa?
Fechado à chave.
Cadê a chave?
Homem levou.
Cadê o homem?
Está dormindo
de luz apagada.
Nossa!
Que escuro!
José Paulo Paes

PARLENDA(I)


Hoje é domingo
Pede cachimbo
O cachimbo é de barro
Bate no jarro
O jarro é de ouro
Bate no touro
O touro é valende
Bate na gente
Agente é fraco
Cai no burado
O buraco é fundo
Acabou-se o mundo
Folclore

sexta-feira, 4 de abril de 2008

A LENDA DO VASO MORTO


Cana-de-açúcar cresce em canaviais imensos, a perder de vista. Quando chega no ponto, é colhida e transportada para o engenho, onde passa por várias etapas até se transformar em diversos protudos, como açúcar, cachaça, caldo de cana, álcool. Veja só quanta coisa sai de uma simples cana! Quando entra na moenda e é espremida, faz sair um caldo esverdeado, espumoso, que cai num recipiente chamado vaso morto. Nome esquisito, não? Pois é, chama-se vaso morto porque fica ali só recebendo de um lado o caldo, e do outro os resíduos provenientes das demais etapas realizadas por outras partes do mecanismo. Coitado do vaso morto! Os outros vasos recebem e tratam as partes, digamos, mais finas, e ele fica ali queito e frio, só recebendo o que não presta.

"E vou ficar aqui, feito penico dos outros?! - pensou o vaso. - Era só o que faltava!"

Estava danado de raiva e doido para apontar alguma para cima de qualquer um, ms principalmente so senhor do engenho. Veja o que aconteceu:

Normalmente, todas as partes do mecanismo ficam quentes, menos o vaso morto, que é frio. Porém, certo dia um empregado do engenho se distraiu, passou perto do vaso e encostou a perna nele: "Ai, ai, ai, eu me queimei. O danado do vaso parece que ferve!" - foi o grito aflito que atravessou a fazenda inteira. Assim, pregando peças nos empregados, o vaso morto is satisfazendo sua raiva. Mas, não podemos esquecer que o rancor maior era para com o senhor do engenho.

Certo dia, vindo da usina, eis que se ouve um gemido intenso, profundo, inexplicável.

"Que gemido é esse? Oh, parece o vaso morto gemendo." Todos correram para conferir e, realmente, o gemido era do vaso morto. Os mais novos olhavam com os olhos esbugalhados de curiosidade, enquanto os mais velhos sentiam naquele gemido um mau agouro. Além disso, apurando o ouvido, dava para perceber algumas palavras: "Senhor do engenho... senhor do engenho..."

- Minha nossa! - gritou a preta velha que entendia todos os mistérios. - O senhor do engenho vai morrer! Vai morrer o senhor de engenho!

Pois não é que três dias depois dá um troço no senhor do engenho e ele morre?!
Cuidado com o vaso morto! Sua frieza engana e seu gemido traz morte!


Magalhães, Elsa Pestana. Lendas do Brasil. Barueri: Girassol: Madri: Susaeta Ediciones, 2004.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

CAVALO MARINHO



Cavalo marinho,
quem te nomeou?
Foi um cantador
que por aqui passou.

Cavalo marinho,
com quem vais sonhar?
Com mil conchinhas
do fundo do mar.

Cavalo marinho,
quem te deu esse sinal?
Foi a mãe da mãe
da estrela do mar.

Cavalo marinho
dança com a princesa
Se apagar a luz,
a lua está acesa.

Cavalo marinho,
é hora da ceia
A dona da casa
que linda sereia!

Papagaio canta
Periquito chora
Cavalo marinho,
vamo-nos embora!


Bocheco, Eloí Elisabete. Batata cozida, mingau de cará. Brasília: Ministério da Educação, 2006



terça-feira, 1 de abril de 2008

LENDA: O MUTUM E O CRUZEIRO DO SUL


Estavam dois irmãos em sua casa quando de manhã ouviram um mutum cantar.


- Vamos, meu irmão, frechar o mutum que está cantando?


- Vamos, eu espero por ti.


Foram frechar. Quando lá chegaram e ouviram o mutum cantando, entesaram logo o arco, mas, olhando novamente, viram que era gente que estava sentada no pau.


O mutum falou imediatamente.


- Não me freches, meu neto. Queres ir comigo para o céu?


- Vou.


- Você quer então ir comigo?


- Vou.


- Então vamos já.


- Vamos.


- Eu vou adiante.


Foram logo para o céu transformados em estrelas.


Lisboa, Henriqueta. Literatura oral para infância e a juventude. São Paulo: Peirópolis, 2002.

MITO: O PAPA FIGO



O Papa Figo, ao contrário dos outros mitos, não tem aparência extraordinária. Parece mais com uma pessoa comum. Outras vezes, pode parecer como um velho esquisito que carrega um grande saco às costas. Na verdade, ele mesmo pouco aparece. Prefere mandar seus ajudantes em busca de suas vítimas. Os ajudantes por sua vez, usam de todos os artifícios para atrair as vítimas, todas crianças claro, tais como; distribuir presentes, doces, dinheiro, brinquedos ou comida. Eles agem em qualquer lugar público ou em portas de escolas, parques, ou mesmo locais desertos.


Depois de atrair as vítimas, estas são levadas para o verdadeiro Papa-Figo, um sujeito estranho, que sofre de uma doença rara e sem cura. Um sintoma dessa doença seria o crescimento anormal de suas orelhas.


Diz a lenda, que para aliviar os sintomas dessa terrivel doença ou maldição, o Papa-Figo, precisa se alimentar do Fígado de uma criança. Feito a extração do fígado, eles costumam deixar junto com a vítima, uma grande quantia em dinheiro, que é para o enterro e também para compensar a família.


Mito muito comum em todo meio rural. Acredita-se que a intenção do conto era para alertar as crianças para o contato com estranhos, como no conto de Chapeuzinho Vermelho.


LENDAS DO BRASIL - SUDESTE




O FRADE E A FREIRA

Quando a região se povoava no trabalho da terra, vieram também os semeadores da fé, pregando e sofrendo ao lado dos homens pecadores.

Um frade ali missionou, ensinando orações e espalhando exemplos de esperança.

Era moço, forte, soldado da milícia qie vencia o mundo, batalahndo por Jesus Cristo.

Na aldeia, não mais acampamentos indígenas e ainda não Vila-del-Rei, freiras divulgavam a ciência do esforço de sacrifício, silenciosa e contínua como o correr de um rio na solidão.

Aqueles que se deram a Deus, só a Ele pertencerão eternamente. O amor divino é absoluto e completo. Nada restará para a esmola a outros amores.

Frade e freira, servo e esposa de Cristo amaram-se, tendo os sinais visíveis do juramento a um outro amor, inviolável e severo.

Foram amando e padecendo, abafando no coração a chama alta do desejo fremente, invasora, sonora de paixão.

As razões iam desaparecendo na marcha alucinate de um amor tão vivo e maravilhoso como a terra virgem que o acolhia.

De furto, orando, chorando, penando, encontravam-se para um olhar mais demorado e uma recordação mais cruel e deliciosa.

Nas margens do Itapemirim andavam as duas sombras negras, lentas, numa procissão de martírio, resistindo às tentações da floresta, do silêncio e da vontade envolvedora.

Se foram ou não um do outro, num milagre humano de esquecimento, não recorda a memória popular.
Apenas, uma vez, não voltaram às suas casas. Faltou um frade nas matinas e houve um lugar vago entre as freiras.

Às margens do Itapemirim, claro e rápido, sobre fundamentod de granito, ergueu-se o casal, num diálogo que atravessa os séculos, ouvido pelas tempestades e compreendido pelos passarinhos.

É o grupo do frade e a freira...

Transformou-os Deus em duas estátuas de pedra, reconhecíveis, identificáveis, perfeitas.

Não os separou nem os uniu num abraço perpétuo à face dos homens.

Deixou-os próximos e distanciados, nas atitudes de meditação e de reza, de sonho e de resignação, frente a frente, imagem da imóvel felicidade, da obstinação amorosa, esperando o infinito.

E assim, eternamente, ficarão...

Cascudo, Luís da Câmara. Lendas Brasileiras para Jovens. São Paulo: Global Editora, 2006