sexta-feira, 21 de março de 2008

BEM SE PAGA COM O BEM

A onça caiu numa armadilha preparada pelos caçadores e, por mais que tentasse escapar, ficou prisioneira. Resignara-se a morrer, quando viu passar um homem. Camou-o e lhe pediu que a libertasse.


- Deus me livre! - disse o transeunte. - Se você ficar solta, vai me devorar.


A onça jurou que seria etrnamente agradecida, e o homem desatou as cordas que seguravam a tampa do alçapão e ajudou a onça a deixar a cova. Logo que esta se encontrou livre, agarrou seu salvador por um braço dizendo:


- Agora você é meu jantar.


Debalde o homem pediu e rogou. A onça, finalmente, decidiu:


- Vamos combinar uma coisa. Ouvirei a sentença de três animais. Se a maioria for favorável ao meu desejo, eu o como.


O homem aceitou e saíram os dois. Encontraram um cavalo, velho, doente, abandonado. A onça narrou o caso. O cavalo disse:


- Quando eu era moço e forte, trabalhei e ajudei o homem a enriquecer. Qual foi o meu pagamento? Largaram-se aqui para morrer, sem um auxílio. O bem só se paga com o mal.


Adiante depararam-se com um boi. Consultado, opinoupela razão da onça. Contou sua vida de serviços ao homem e, quando julgava que ia ser recompensado, soube que fora vendido para ser morto e retalhado pelo açougueiro. O bem só se paga com o mal.


O homem, triste, acompanhava a onça que lambia o beiço, quando viram o macaco. Chamaram o macacoe pediram seu parecer. O macaco começou a rir. E saltava, fazendo caretas e rindo. A onça ia-se zangando:


- Por que tanta risada, camarada macaco?


- Não é fazendo pouco - explicou o macaco -, é que eu não acredito que o homem caísse na armadilha que ele mesmo preparou.


- Ele não caiu. Quem caiu fui eu - contava a onça.


- Foi você? Então como é que esse homem fraquinho pôde libertar um bicho tão grande e forte como a camarada onça?


A onça, despeitada pelo macaco julgá-la mentirosa, foi até o alçapão e saltou para o fundo do fosso, gritando lá de baixo:


- Está vendo? Foi assim!


Mais que depressa o macaco empurrou o engradado de varas pesadas que fazia de tampa e a onça tornou a ficar prisioneira.


- Camarada onça - sentenciou o macaco - o bem só se paga com o bem. E você fez o mal, receba o mal.


E se foi embora com o homem, deixando a onça na armadilha.
CASCUDO, Luís da Câmara. Contos Tradicionais do Brasil. São Paulo: Global Editora, 2003. p. 12 - 16


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